quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Esse é um livro,que estamos copiando para você ler.

      Dona Feia

      Poucas pessoas aventuram-se a passar nos arredores do casebre de Dona Feia.
       Um caminho estreito, fugindo da estrada,vai se contorcendo e serpenteando, como a desviar-se  das pedras grandes e dos pequenos grotões, que a natureza deixou esquecidos naquele lugar. O caminho leva ao casebre de Dona Feia,somente esse caminhozinho  perdido no emaranhado da mata.
      De vez em quando, os arbustos do cerrado deixam brotar uma flor em meio a tanta falta de cor  diversa. Ninguém dá por isso,a não ser os besouros dos estercos  atrás de melzinho, seiva no miolo das flores,esse manjar em dias de sol escaldante.
     Os calangos-no alto das pedras- ficam também á espera.Não de flores agrestes. Gostam dos besouros . De preferência dos que se fartaram de mel.

     O casebre é caiado de branco e tem janelas-guilhotinas.Fica á beira de um riacho, raso e morrinhento, nascido de um olho d'água,água limpa e lenta.Grilos e sapos,á noitinha, acampam ás margens, em interminável cantoria e duelo.
      Há dois espantalhos no milharal. Estão servidos a anos, quase aos farrapos, não fossem os imensos chapéus de palha s os protegeram do sol e das chuvas. Fiéis á Dona Feia, guardam a plantação.Fiéis também aos velhos conhecidos pássaros e maritacas,fazem vista grossa, fingem não os ver, quando as espigas multiplicam-se envoltas nas verdes palhas, e eles,em algazarra, as devoram.
       Mandioca,bananeira,pé de romã, canela-de-ema, limoeiro, pequizeiros,algodoeiros,urucuzeiros,losna,arruda,melissa, espadas-de-são-jorge,funcho e outras ervas se espalharam na terra que o riachinho banha.
       Chaninha, a gata preta, estirada na janela do casebre, abrindo um olho, mais concentrada a sua preguiça, avista a dona no milharal.
      - Chaninha, me valha mais que estes espantalhos imprestáveis! Abocanha essa corja de penas que vem estropiar meu milharal! Vamos, ora essa, gata preguicenta!
      E Chaninha, alheia a passarada,desliza o pelo do corpo nos caules do milhos,alonga a coluna, contorce a cauda, incha as bochechas.Ronrona. Depois mia, desacatando a dona,dando de sua presença contribuição alguma.
       Dona feia,mesmo assim,ganha ao colo a pachorrenta gata,sonolenta ao primeiro cafuné nas orelhas.
      Caminha Dona Feia entre o milharal,vendo dançar ao vento os longos estiguimas a lembrarem fios de cabelos.

       Sobre Dona Feia,muito já foi dito e desdito pelo povo do vilarejo.A cada comentário, nascido no crescente do assunto e sem autoria certeira, Dona Feia ganha estórias, Dona Feia vira lenda.
        ''Fora abandonada  pelos pais, no dia do nascimento, devido á tamanha feiura. Quem a criou não vive mais, como penou a criatura!"
        ''Corre a boca miúda, foi deixada no altar esperando o noivo.Sete dias se passaram,todos em interminável choro.Jurou sozinha então viver sem companhia de outro."
        "Nada disso, vem de tempos,tanto terror e maldição.Cumpre a sina das bruxas, das fazendeiras de poção. Mexe com magia oculta, nas noites de São João." 

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