quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Livro: Diomira e o Coronel Carrerão

                 Diomira  e o Coronel Carrerão

     Diomira, a Sherazade do sertão.

       Todo munda sabe que lá pras bandas do Oriente, há muitos e muitos anos,viveu uma moça chamada Sherazade, que, se não viveu, foi muito bem inventadinha,porque até hoje ninguém contestou sua existência.
        Por razões que não vêm ao caso, ela foi obrigada a se casar com um sultão que tinha mania de matar suas mulheres. A cada dia ele se casava com uma mulher diferente, só pelo prazer de matá-la na manhã seguinte.
        Muito esperta,Sherazade teve uma ideia que acabou livrando-a da morte.
        Antes de se deitar com o facínora,ela lhe contou uma história.Uma longa história que durou até o dia seguinte.Curioso pelo fina,o sultão deixou-a  viver mais um dia para que ela,á noite,terminasse a narrativa.
        Na noite seguinte, mal Sherazade terminou a primeira história,começou a segunda,e, no dia seguinte, a terceira, e assim por diante.
        Depois de mil e uma noites, seduzido pelo poder das histórias e pela beleza da contadora, o sultão desistiu de matar Sherazade, e os dois viveram felizes para sempre.




        O que ninguém sabe é que,numa cidade no Norte do país,aconteceu uma coisa muito parecida.
        Nonato Carrero, também conhecido como Coronel Carrerão,famoso por sua rabugice,era um homem ríspido de poucas palavras.Vivia sozinho na Fazenda Bela Vista, maltratando os empregados e botando para correr quem dele se aproximasse.



         Se tinha uma coisa que o Coronel gostava era de comer bem. Disse ele não abria mão. Suas refeições tinham mais de dez pratos: carneiro,leitão,bifes suculentos, além de arroz, farofa, pirão e, claro, as sobremesas, nunca menos que meia dúzia de doces diferentes. O vilarejo inteiro comentava que não havia serviço mais difícil que ser cozinheira do Coronel. E olhe que o homem pagava bem!


        Quando Diomira soube da dinheirama que ele oferecia, tomou coragem e bateu na porta do Coronel. Cozinhar ela sabia. Desde pequena ela vivia com a barriga no fogão, aprendendo com a mãe  o segredo das tortas, dos bolos, dos assados e de todo o tipo de gostosura.
        Diomira não foi modesta. Pelo contrário, fez tanto alarde de suas qualidades que foi contratada na hora. E não decepcionou.
        Já no almoço do primeiro dia, os empregados ficaram de queixo caído. Nunca tinham visto Carreirão comer tanto. No final, ele lambeu os beiços e perguntou:
    - O que vamos ter para o jantar?
        A moça tinha caído nas graças do Coronel. O único problema era que o homem não lhe dava um minuto de sossego. Era o tempo todo:
   - Diomira, faz isso, Diomira, faz aquilo.
         Se ela fazia bolo, ele queria biscoito, se ela fazia biscoito, ele queria compota. Era um tal de inventar moda que não tinha fim.
        Ás vezes, o Coronel chegava a acordar Diomira no meio da noite para que ela lhe fritasse uns bolinhos de aipim. De manhã, mal ela colocava o pé para fora da cama que já ouvia o vozeirão:
   - Traz minha coalhada e doce de leite com requeijão.
      A coitada só descansava quando o Coronel dormia. Assim que ela ouvia o ronco, corria para a estante de livros num canto da sala e escolhia um livro bem interessante para ler. Depois de cozinhar, a leitura é a segunda coisa que ela mais gostava de fazer na vida.
     Ao deparar com a história de Sherazade, ela teve uma ideia: quem sabe, se eu fizesse o mesmo com o Coronel, ele não me dava sossego.



       Á noite, quando ele pediu mingau de araruta com bastante canela,ela o serviu e aproveitou para lhe fazer uma pergunta:
     -O senhor não gostaria de ouvir uma história?
     -Ora essa! Que diaxo de história é essa?Você tá achando que eu sou criança?
     -Nada disso, coronel.Gente grande também também gosta de história.
     As que eu sei são todas para gente da sua idade.Uma mais bonita que a outra.
     Pois não é que ela aguçou a curiosidade do homem?
     -Pois sente aí e conte uma.Quero ver se eu gosto.
     Diomira sentou-se e contou a primeira.



           A Moura torta

     Era uma vez um príncipe que, cansado de viver ás custas do pai, abriu mão de sua fortuna e saio pelo mundo com a roupa do corpo.Depois de muito andar,bateu á porta de um casebre e pediu um prato de comida.A velha que morava ali lhe deu três abóboras:
     -Dentro de cada uma  tem uma moça.Quando você abrir,ela vai pedir um copo de água.Se você der,ela vive.Se não der, ela morre.
     O príncipe continuou seu caminho.Á noite, cansado e faminto,abriu a primeira abóbora.Lá de dentro saiu uma linda moça loira de olhos azuis.
     -Estou com sede-ela disse.
      Como não havia água por perto,ela inclinou a cabecinha e morreu.
      O príncipe comeu a abóbora e continuou a andar.No segundo dia,abriu a segunda abóbora.A moça que apareceu era morena de olhos verdes.


     Continua.......